Escolher a bicicleta como estilo de vida vai muito além de duas rodas e pedais. É uma decisão que pode mudar radicalmente a maneira como vemos o mundo, além de trazer desafios e recompensas únicas. Viver com a bike, longe dos motores a combustão e das conveniências do automóvel, requer uma mudança profunda na forma como encaramos a mobilidade e o cotidiano.
Podemos dizer que, apesar de parecerem distantes à primeira vista, o esporte e o mundo corporativo possuem algumas ligações claras. E isso não é diferente ao adotar a bicicleta como estilo de vida: é preciso ter planejamento e organização, adaptação a diferentes ambientes, gerenciamento de tempo, manutenção e cuidado pessoal e resistência e resiliência.
PRIMEIRO PASSO PARA SER UM VIAJANTE DE BIKE EM TEMPO INTEGRAL
Mudar de emprego não é uma tarefa simples. Temos que nos adaptar a uma nova cultura corporativa, novas pessoas, novos ambientes, novos desafios... E mudar radicalmente de estilo de vida também não é nada fácil, mas foi exatamente por esse caminho que o colombiano Miguel Ángel Hernández Zambrano, de 34 anos, resolveu seguir. Professor formado em Educação Física, em 2020 fez um roteiro de bike pela Colômbia, gostou e resolveu mudar os rumos da direção das suas vivências.
“Já rodei por nove países, quase 700 cidades no mundo e toda a América do Sul. No Brasil, já pedalei no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins, Sergipe, entre outros. Sempre levo algumas coisas comigo para vender pelo caminho. Vivo cada momento e agora entendo que todo dia é dia de curtir”, destaca Miguel.
OS APRENDIZADOS QUE A BIKE DEIXA PELO CAMINHO
Além do campo da inspiração, a atividade física tem uma grande influência no desenvolvimento cognitivo, na memória, na melhora de atenção, da aprendizagem e no controle das emoções. Ou seja, manter o corpo em movimento pode trazer resultados em diversos campos da vida, seja no esporte ou no mundo corporativo. Mas, além disso, ser um cicloviajante também traz aprendizados únicos.
Isso é o que tem vivido Mateus Barbosa Verdú, de 35 anos, professor de Filosofia e História na Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). Ele já pedalou pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Sua primeira cicloviagem começou pelo Caminho da Fé, saindo da cidade de São Carlos (SP) em direção a Aparecida do Norte. Recentemente, ele foi do interior de São Paulo para Ilhabela, uma das poucas regiões que ainda não conhecia do litoral paulista.
“O maior aprendizado é voltar a acreditar no mundo e nas pessoas. O Brasil não é um bloco homogêneo; há muitos povos, línguas, estados, culinárias, jeitos e modos de conceber o mundo ao redor. Creio que a bike, por não ter uma velocidade alta, ajuda-nos a digerir e degustar os territórios por onde passamos. Então, a bicicleta é uma professora e tanto. Comecei em dezembro de 2022 e, até agora, já tenho 5 mil km pedalados e muitas histórias colecionadas”, diz Mateus.
DICAS DE OURO PARA INICIANTES
A cicloviagem, que combina a paixão pelo ciclismo com a exploração de novos lugares, é uma atividade que pode ser bem desafiadora para iniciantes, mas com as dicas certas, a experiência pode ser tornar inesquecível e marcante.
Mateus comenta sobre algumas orientações: “Sou um amante e incentivador da bike e de uma vida mais saudável e sustentável. Sugiro que se a pessoa se interessa por pedalar, que procure grupos que façam pedais semanais ou até viagens e comece a observar outras pessoas que se deslocam de bike para trabalho, lazer ou viagens. Se o interesse for por uma viagem mais longa, sugiro procurar referências de alguém que já fez isso antes. O perfil do cicloviajante é, geralmente, de uma pessoa mais interessada em conhecer locais e tradições e gastar menos”.
No ambiente corporativo, mesmo os profissionais mais experientes se beneficiam de um bom planejamento. Afinal, uma boa preparação pode ser imprescindível para as metas ou objetivos. E o mesmo acontece com a bike: à medida que ganha experiência, você poderá ajustar suas preferências e técnicas.
A IMPORTÂNCIA DA PARCERIA E DA EQUIPE
Até mesmo nos esportes mais individuais, é difícil encontrar algum atleta de alto nível que afirme que ganhou tudo sozinho: por trás, sempre há o trabalho do treinador, nutricionista, psicólogo, entre outros profissionais. No mundo corporativo, relembramos diariamente a importância do trabalho em equipe. Ajuda, compreensão e empatia são elementos que facilitam os projetos e desafios mais complicados.
“Possíveis furos no pneu, grandes subidas, que nos força a caminhar a pé ao lado da bicicleta, e a chuva são alguns dos desafios que encontramos nas viagens de bike. É preciso ter paciência”, afirma Carolina Richard, de 45 anos. E ter alguém ao lado para superar esses obstáculos ajuda muito.
Além do amor pelo parceiro, eles também compartilham o mesmo amor pela bicicleta: Carolina divide os desafios do dia a dia ao lado do seu namorado, Damián Ariel Chafala, de 31 anos. Eles trocaram os carros e os ônibus pela bike para curtir a viagem de outra forma.
O casal argentino começou a cicloviagem no estado do Paraná há cerca de um ano e meio. Hoje, eles estão em Paraty, no Rio de Janeiro, em trabalhos fixos. Ela trabalha em um restaurante caiçara e ele, em um quiosque.
EQUILÍBRIO É O CAMINHO
“É difícil ter no esporte ou no mundo corporativo fases sempre lineares. Altos e baixos são saudáveis”. Essa declaração da Daiane dos Santos, primeira campeã mundial da ginástica artística brasileira, relembra que o equilíbrio deve estar sempre presente em nossa vida. Saber equilibrar a vida de trabalho com a vida pessoal também é uma qualidade.
Carolina Richard destaca isso como um dos principais aprendizados que teve ao lado do namorado nas viagens de bike: “Ser constante, manter uma estrutura de vida, ter horário para trabalhar, pedalar e viajar, mantendo uma rotina ordenada de trabalho e de vida. Isso nos ajudou muito”.
Assim como qualquer outro aspecto da vida, encontrar o equilíbrio pode ser o caminho mais saudável para nosso corpo, mente e carreira. E a vida sobre duas rodas é prova disso.
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