Ninguém é campeão por acaso, ainda mais quando a conquista vai além de um troféu. Dedicação, respeito e determinação são vitórias pessoais que estão representadas em um pódio. Assim era Ayrton Senna, resultado da combinação perfeita de talento e foco. Senna é considerado por muitos estudiosos um atleta arrojado. Sua preparação física, a ética de trabalho, seu espírito competitivo, sua preocupação com a segurança durante as provas e inúmeros outros fatores eram inéditos para sua época e contribuíram para solidificar seu status como ídolo. Para os pilotos atuais, ser comparado ao grande gênio da Fórmula 1® tem um significado profundo, que vai além do que ter habilidades ou determinação em vencer. Ser comparado com Senna faz o piloto pertencer a um seleto grupo de campeões que encantam pelo poder de atuação nas pistas. É o passaporte que te eleva a um nível restrito: pilotos que voam diante do perigo, porque essa palavra não é e nunca será um problema. Para muitos, a comparação com Senna chega a ser algo sobrenatural. Sugere um tipo de motivação para acelerar, que vai além de todo limite racional, e só se justifica por alguma razão totalmente desconhecida.
Senna não corria por pontos, não corria para chegar na bandeira quadriculada. Ele corria para vencer. Ele gostava de vencer. Dentro e fora da pista. Ele sempre exigiu melhores e melhores resultados de si mesmo, mostrando ás pessoas muita dedicação e foco. Esse foi seu legado. Mas a determinação extrema também foi o gatilho de algumas polêmicas sobre o grande ícone do esporte brasileiro. Qual o limite do risco? Um esporte que gera tamanho conflito entre a paixão e a emoção de uma vida vivida no limite. O GP de Ímola, na Itália, em 1994 não parou somente o Brasil. O mundo se comoveu, estático, assistindo a cada segundo daquele acidente na curva Tamburello.
Com a mesma devoção pelo esporte, outros pilotos brasileiros seguiram o trilho do ídolo. Rubens Barrichello estreou em um Grande Prêmio na Africa do Sul, em 1993. Foram 19 longos anos de carreira, acumulando o título de piloto que por mais tempo correu na categoria. Mas a comparação de Rubens Barrichello com Senna não é novidade. Na fatídica temporada de 1994, Barrichello era apenas um iniciante na Fórmula 1®. Os holofotes focavam Rubinho como futuro campeão mundial brasileiro. Desde o início ele apresentou uma exímia capacidade técnica em “acertar o carro”, e alcançou excelentes resultados pilotando na chuva, assim como Senna o fez. E mesmo nao sendo o mais rápido, Rubinho sempre foi competitivo. Porém a expectativa em torno de seus resultados foi o grande mal de sua carreira. Rubinho deixou a escuderia Ferrari em 2005 sendo preterido ao seu companheiro de time, Michael Schumacher. Essa posição ganhou força quando, em 2002 no GP da Áustria, o brasileiro cedeu a vitória ao alemão, a pedido da equipe. E desde então, Rubinho nâo conseguiu recuperar seu lugar dentro da escuderia.
Uma nova expectativa de um campeão brasileiro na F1® surgiu com Felipe Massa. Quando se tem a referência de um piloto como Senna, é impossível não comparar as suas excelentes habilidades e sua performance com as um novo talento. No caso de Massa, o Brasil retomou a expectatica em ter um herói como Ayrton Senna. E novamente trouxe muita pressão nas costas de um jovem piloto, que estava iniciando seus passos na Fórmula 1® em 2002. Senna era um gênio para Massa, porém ele queria trilhar sua própria carreira e ter sua própria abordagem nas pistas, uma maneira de pilotar diferente do que Senna fez. Massa não é Senna, mas ter a pressão de conquistar os recordes e ter as habilidades do ídolo sempre foi um peso enorme. Em seu grande momento da carreira, em 2008, Massa sucumbiu diante dos próprios erros e das falhas de sua equipe, na época a escuderia Ferrari, e perdeu o Campeonato na última corrida, na última volta. Mais tarde, quando já atuava pela Williams, teve que abrir passagem ao seu companheiro de equipe. Já Ayrton Senna estava fora dessas regras normais de comportamento, era impulssivo, emocional e sua atitude faria diferença nesse momentos: “Ser o segundo é ser o primeiro dos derrotados.” Dizia Senna.
Mas vamos voltar a história de Ayrton Senna. Porque ele? Porque se tornou esse Deus das pistas? O brasileiro foi tricampeão mundial, muito distante dos 7 títulos do alemão Michael Schumacher. Porém Senna competiu durante tempos de muitos prodígios no automobilismo, onde a combinação de habilidade técnica e talento, eram imprescindíveis dentro e fora da pista. Ele testava os limites, e muitas vezes ia além.
Nascido na cidade de São Paulo, em 1960, Senna dirigia karts customizados desde os quatro anos de idade. Seu talento e entusiasmo se destacaram em todas as categorias do kart. Mas foi depois de um período de sucesso na Grã-Bretanha, conquistando o campeonato inglês de Fórmula 3, que Senna assinou com a Toleman-Hart. O ano de 1984 marcou sua primeira temporada na Formula 1®. E seu talento já foi percebido na prova de Mônaco, um circuito difícil, traçado nas estreitas e curvas ruas de Monte Carlo. Senna largou em 13º, mas rapidamente subiu para a segunda posição, ultrapassando Nikki Lauda, e aproximando-se do campeão Alain Prost. Chovia muito e a corrida foi interrompida, mas o nome de Senna já estava na boca de todos. Percebendo que teria uma vantagem em correr na chuva, se adaptar às pistas molhadas era uma questão de treino. E então começou sua relação especial com Monaco e com a chuva.
Em 1988 Senna conseguiu seu lugar na forte equipe McLaren. O desafio de ter um execelente carro, com um motor potente, estava superado. No novo time, porém, a disputa seria outra: seu companheiro de equipe, um dos melhores e mais competitivos pilotos da época, o francês Alain Prost. A rivalidade dos dois estava apenas no começo e foi marcada por vitórias e derrotas, acidentes, desafios e polêmicas. Na temporada de 88 Senna venceu oito corridas, Prost apenas sete, e então conquistou seu primeiro título mundial. Prost levou o campeonato de 1989 e Senna foi campeão do mundo em 1990: Se no primeiro o francês fechou o brasileiro para garantir o título, no segundo Senna também não pensou duas vezes antes de bater no rival para conquistar o seu bicampeonato. A agressividade do brasileiro sempre incomodou diversos adversários. Quando viam o capacete amarelo no espelho retrovisor, sabiam o que viria pela frente.
Senna era possuído pela velocidade. Antes de ultrapassar os outros carros, antes de conseguir a pole position e vencer, ele teve que desafiar a si mesmo. Um confronto pessoal com a própria motivação de acelerar, com seus limites racionais. Limites a serem conquistados, independentemente do que se encontra no caminho. Por isso ele é eterno. Ser Ayrton Senna é uma questão de espírito.