Viver sobre duas rodas para muitos é uma questão de sobrevivência. Quem trafega pelas grandes cidades do Brasil, acompanha de perto a movimentação de milhares de motociclistas que se arriscam pelo trânsito caótico em busca da melhor entrega. Entretanto, para alguns a motocicleta também simboliza uma paixão, um vício intrínseco à própria existência. É o caso de Rafael Paschoalin.
Filho de piloto, ele não lembra da vida antes das duas rodas. Já aos seis anos de idade, ganhou a primeira moto, um presente de Natal. Entre oficinas e pistas de terra pelo interior de São Paulo, o pequeno Paschoalin alimentou um sonho que viria a delimitar o caminho de sua carreira profissional. Aos 17 anos veio a primeira competição oficial no mundo da motovelocidade, um quinto lugar em meio a 43 competidores.
“Minha família sempre me incentivou. Nunca me disseram que eu precisava parar de andar de moto. Até porque, eu conciliava a vida de piloto com outro trabalho. Mesmo hoje, tenho minha empresa, mas, é claro, dedico muito tempo para a pilotagem. Quando comecei, a motovelocidade não era tão profissional no Brasil como hoje. Era preciso conciliar com outras atividades”, comenta.
Desafiando as alturas em Pikes Peak – Crédito: Divulgação/Rafael Paschoalin
Após experiências bem-sucedidas no mercado editorial, onde testava as motos e dava suas opiniões, Paschoalin resolveu focar a carreira nas competições. A partir de 2012, o piloto passou a competir com regularidade em provas de rua como a Ilha de Man, mas foi na tradicional subida de Pikes Peak, no Colorado (EUA), em que ele atingiu o topo do mundo. Apesar do triunfo em 2019 ter sido marcante, ele afirma que não são os troféus sua principal motivação.
“Sou muito low profile, meio old school. Estou mais preocupado em ganhar de mim mesmo e dos meus concorrentes. Falar de troféus e das minhas conquistas é a parte que menos gosto nisso tudo. Jamais falo que sou o cara que correu na Ilha de Man ou que ganhou Pikes Peak. Gosto é de uma boa e velha disputa de moto, competição pura. É o que me fascina”, afirma.
Apesar da modéstia, a carreira de Paschoalin é uma das mais sólidas na motovelocidade brasileira, e a experiência acumulada ao longo de muitos anos de competições ao redor do mundo trouxe a ele uma nova função: a de mentor. Hoje, ele atua como uma espécie de “professor” em uma categoria de motos para crianças entre 8 e 16 anos. Para ele, formar novos e bons pilotos é também formar bons cidadãos.
“Com as crianças, consigo pegar toda a experiência de pilotar há mais de 30 anos e de ter rodado todos os continentes competindo, e fazer disso um belo apanhado de informações, passando pontualmente a eles. Não só para andarem mais rápido, mas para serem pessoas decentes. O mundo das competições é ingrato, apenas um vence. É preciso ter uma preparação psicológica muito forte para a criança aprender a ganhar, mas, principalmente, aprender a perder”, diz.
Educando os pupilos – Crédito: Sampafotos
A proximidade com as competições entre as crianças acendeu uma faísca em Paschoalin, e em 2022 ele confirmou que disputaria a temporada completa do SuperBike Brasil. Parceiro da Pirelli há quase uma década, ele alterna a vida nas pistas com o trabalho de influenciador da marca. Os anos de experiência, porém, não impediram que a readaptação ao universo competitivo tivesse seus pequenos percalços.
“Está sendo um tremendo desafio. Foram dois anos de pandemia, e eu estava aposentado e sem nenhuma preocupação em ser competitivo. Tive que mudar toda a minha rotina. Diminuí drasticamente a quantidade de coisas que fazia todos os dias, justamente para me dedicar mais à competição. Os quase 40 anos se mostram todos os dias, então tenho que me esforçar muito para dar conta e ser competitivo tecnicamente e fisicamente.”
Entretanto, ele sabe que o trabalho árduo trará a recompensa no final.
“Acredito que até o meio da temporada estarei no meu auge físico e de pilotagem. Aí é terminar de desenvolver a moto para brigar pelas primeiras posições”, conclui.