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O grande campeão Girardengo

O primeiro lugar no Milão-Sanremo em 1918, quando apenas sete ciclistas alcançaram a linha de chegada, foi uma de suas vitórias mais memoráveis

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Um século se passou desde as façanhas de Costante Girardengo, o primeiro campeão italiano de ciclismo. Pode ser difícil acreditar, mas, na verdade, foi uma bela canção do grande cantor e compositor Francesco De Gregori que o tornou conhecido pelas novas gerações. O refrão da música intitulada Il bandito e il campione (“O Bandido e o Campeão”), de 1993, que homenageou a lenda da Novi Ligure, foi inspirada pela estranha amizade com Sante Pollastri, um conterrâneo e fora da lei – uma história verdadeira, embora um pouco romantizada ao longo das décadas.

“Vai Girardengo, vai grande campione / nessuno ti segue su quello stradone! / Vai Girardengo, non si vede più Sante / è sempre più lontano, è sempre più distante!” *  se tornou parte da literatura das canções italianas e lembra de forma divertida uma das características do ciclista piemontês, que é a habilidade de escapar deixando todos para trás e que o tornou o rei das corridas de estrada por excelência.

Apenas Merckx se saiu melhor

Profissional com apenas 19 anos — ele nasceu em 1893 —, Girardengo era pequeno em altura (daí o seu apelido “The Novi Runt”), mas enorme em talento. A lista de sucessos impressiona: duas vitórias no Giro d'Italia, seis vezes campeão no Milão-Sanremo (um recorde batido apenas 50 anos depois pela lenda Eddy Merckx) e três vezes no Giro di Lombardia. Ele também foi campeão italiano de corridas de estrada em nove ocasiões, outro recorde incrível.

Suas aventuras além das fronteiras nacionais foram menos afortunadas e seu melhor resultado foi um segundo lugar no primeiro campeonato mundial de ciclismo, sendo derrotado por outro grande campeão italiano, Alfredo Binda. Também é verdade que a Primeira Guerra Mundial e a terrível febre espanhola certamente tiraram algumas de suas chances.

Um erro terrível

Girardengo cruzou com Bianchi-Pirelli um ano depois da estreia da equipe, com duas vitórias em etapas, e em dupla com Giuseppe Azzini. Em 1915, o campeão de Novi Ligure estava em grande forma e venceu no Milão-Sanremo, que seria a última corrida antes da suspensão por causa da Primeira Guerra Mundial. Mas, por incrível que pareça, ele foi desqualificado por não seguir o percurso traçado pelos organizadores.

Isso aconteceu na era do pioneirismo, quando os principais ciclistas podiam levar de 10 a 11 horas para percorrer os 290 quilômetros previstos, em oposição às 7 horas que levaram nas edições das últimas décadas. Ele se redimiu vencendo pela segunda vez no Milão-Turim, que era a corrida mais adequada para um velocista como ele.

Finalmente a vitória

A corrida Milão-Sanremo ficou gravada na mente de Girardengo, então ele voltou ao treinamento regular e completou a competição de novo em 1917. Ele foi vencido apenas por seu colega de time Tano Belloni, mas teve a grande satisfação de superar o recorde italiano de velocidade, chegando a 41.032 quilômetros por hora no Velódromo Sempione.

O momento decisivo veio na primavera de 1918. A Classicissima — “Mais Clássica” — aconteceu em 14 de abril. Dos 33 pilotos que começaram, apenas sete alcançaram a linha de chegada, confirmando o quão difícil era a corrida. Foi uma batalha dentro da equipe Bianchi-Pirelli e não havia chance de que apenas homens vestindo roupas brancas e azul celeste estivessem no pódio em Sanremo.

Por fim, Costante Girardengo venceu a Milão-Sanremo cruzando a linha de chegada uns bons 13 minutos antes de seu grande rival Belloni e com 59 minutos de vantagem sobre Ugo Agostini, que chegou em terceiro. Esse foi o real início de carreira de uma das grandes lendas do ciclismo.


*“Vai, Girardengo, vai, grande campeão / ninguém está te seguindo pela rua! Vai, Girardengo, Sante não está à vista / ele está cada vez mais longe, ele está a uma distância cada vez maior!”

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