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Os combustíveis alternativos são o futuro?

A Comissão Europeia pode ainda salvar o motor a combustão interna criando uma isenção para combustíveis alternativos, incluindo biocombustíveis. Estamos prontos para essa mudança drástica?

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Há muita gente que acredita que os combustíveis alternativos podem desempenhar um papel importante na corrida para a descarbonização. Mas, tal como acontece com todos os aspectos da transição para longe das tecnologias energéticas emissoras de carbono, os combustíveis alternativos são uma proposta complexa com muitos prós e contras a considerar. É hora de pensarmos nos detalhes.

Os combustíveis alternativos são notícia porque a Comissão Europeia decidiu recentemente isentar os “e-combustíveis” sintéticos da proibição em toda a União Europeia de vendas de novos veículos com motor a combustão interna, que deverá entrar em vigor em 2035. Além disso, alguns estados da UE pretendem agora aumentar a isenção para incluir os biocombustíveis, outro tipo de combustível alternativo.

Tudo isso ainda está em debate nos corredores da política europeia. Mas se os combustíveis alternativos são uma boa solução de descarbonização, por que não estiveram no plano desde o início? A resposta está nos complicados detalhes tecnológicos dos combustíveis alternativos que já estão no mercado ou que são esperados em breve.

O caso do biocombustível

Comecemos pelo biocombustível, que é o combustível alternativo mais conhecido porque em muitos países já está presente na gasolina. A maioria dos motoristas reconhecerá a mistura chamada E10, composta por 10% de biocombustível etanol e 90% de gasolina. Essas misturas são comuns porque, embora muitos governos queiram incentivar o consumo de biocombustíveis, a maioria dos carros não pode funcionar com etanol puro. Outra versão de biocombustível é o biodiesel, que é o biocombustível mais comum na Europa – os europeus consumiram 17 milhões de toneladas deste produto em 2021.

Esses biocombustíveis já existem há muito tempo e a maioria deles é produzida por processos de fermentação a partir de culturas como a soja ou o milho. Quando, utilizados, emitem dióxido de carbono tal como os combustíveis fósseis, mas este é o carbono que foi capturado do ar quando as culturas forrageiras (espécies utilizadas para alimentar, principalmente, porcos e bois) são cultivadas, por isso, em teoria, é um caso de entrada de carbono, saída de carbono, sem qualquer contribuição para a redução de carbono na atmosfera.

Desvantagens

Mas, como você deve ter percebido, nem tudo são boas notícias. A produção de alguns biocombustíveis consome, na verdade, combustíveis fósseis e emite carbono ao longo de várias fases do processo – um estudo do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável identificou que não havia nenhum benefício em termos de emissão de carbono na utilização de biocombustíveis em comparação com os combustíveis fósseis.

Há outra desvantagem: os biocombustíveis, conhecidos como combustíveis de “primeira geração”, também usam recursos agrícolas necessários para a produção de alimentos, aumentando potencialmente o preço dos alimentos básicos. E é por isso que há um interesse crescente nos biocombustíveis de “segunda geração”, que, em vez de utilizarem culturas alimentares, dependem de resíduos dessas culturas ou da silvicultura (cultivo de florestas pelo manejo agrícola para produzir madeiras e outros derivados para satisfazer as necessidades do mercado e, ao mesmo tempo, promover o uso racional das florestas) para não substituírem a produção de alimentos.

A ascensão dos e-combustíveis

Depois, há os “e-combustíveis”. São combustíveis sintéticos que funcionam como a gasolina fóssil e o diesel, mas são produzidos a partir do hidrogênio e do CO2 atmosférico. Ao contrário da maioria dos biocombustíveis, podem ser utilizados tal como os combustíveis convencionais, sem serem misturados com combustíveis fósseis. Isso significa que os e-combustíveis mais recentes poderão fornecer o que é conhecido como uma solução “drop-in” que pode ser utilizada em veículos existentes sem modificação.

Mas, novamente, existem desvantagens. Um deles é o fato de a produção comercial de e-combustível ainda não ter entrado em funcionamento (embora várias empresas automóveis tenham investido no desenvolvimento do e-combustível). E um problema ainda por resolver é que a maioria dos métodos de produção existentes consome muita eletricidade.

O caminho para a descarbonização

No final das contas, o futuro desses combustíveis e dos motores a combustão interna que os utilizam se resume a uma questão de convicção. Insistimos que o futuro da mobilidade deve ser puramente elétrico, porque não emite CO2? Ou aceitamos que o futuro poderá ser mais complicado, com inúmeras exceções para os veículos que emitem CO2, mas de uma forma que pode não aumentar a carga de carbono na atmosfera?

Tudo se resume a uma escolha – e os consumidores, os fabricantes e os políticos têm de decidir o que realmente impulsionará a mudança para o carbono zero no mundo real.

Escolha errado e todos poderão descobrir que, na corrida para o carbono zero, estarão correndo em vão. Escolha certo e talvez todos cheguemos lá no final.

 

Ilustração: Elisa Macellari

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