As empresas podem ser perdoadas por pensarem que o mundo da certificação de sustentabilidade está um pouco complicado demais. Há um número cada vez maior de padrões e metas diferentes para se considerar, e cada órgão de certificação parece ter sua própria sigla e seu próprio conjunto de critérios complexos.
Mas um bom ponto de partida é distinguir entre dois tipos muito diferentes de métricas de sustentabilidade. Em primeiro lugar, temos metas, que dizem respeito àquilo que as empresas pretendem alcançar no futuro e à forma como o farão. Depois, há o desempenho: o que estão fazendo neste momento. E embora se fale muito sobre os objetivos futuros de sustentabilidade, deve ser lembrado que o desempenho atual é algo tão importante quanto.
É aqui que entra a Organização Internacional de Normalização (ISO), com sede em Genebra. A organização é conhecida por certificar todos os tipos de produtos e processos, com mais de 24.852 normas internacionais que cobrem áreas como qualidade, saúde e segurança, energia, risco e segurança da informação. E está se tornando cada vez mais importante na condução de padrões de sustentabilidade. Ao contrário de muitos dos programas de certificação que as empresas adotam, os padrões ISO tratam do desempenho atual e não de metas futuras. Embora seja fácil para as organizações fazerem promessas sobre o futuro, é muito mais difícil proporcionar sustentabilidade real neste momento.
Onde estamos indo
É claro que as metas são importantes porque orientam e ajudam a formar a estratégia de sustentabilidade. A fonte mais importante para as metas de sustentabilidade continua sendo a Organização das Nações Unidas.
Você já deve ter ouvido falar da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (sigla em inglês, UNFCCC) e do Acordo de Paris de 2015, que estabelece metas básicas de redução de carbono que são revistas sempre que a chamada Conferência das Partes (ou 'COP') se reúne – a próxima será a COP28 em Dubai, no final de 2023. Isto constitui uma parte fundamental da maioria dos planos climáticos empresariais, porque a UNFCCC estabelece metas globais que são universalmente reconhecidas.
Depois, há os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que vão muito mais longe do que apenas a redução de carbono. Os ODS estabelecem metas amplas de sustentabilidade a serem seguidas pelas organizações, abrangendo questões como igualdade, pobreza, saúde e meio ambiente, bem como clima. Tal como a UNFCCC, estas são geralmente uma parte fundamental da estratégia empresarial e a maioria das empresas define metas de desempenho relacionadas com os ODS.
Quando se trata de atingir esses objetivos, há muitos caminhos a serem seguidos pelas empresas. A prática aceita é que as empresas utilizem a metodologia criada pela iniciativa Science-Based Targets (SBTi) - em português, Metas Baseadas na Ciência - apoiada pela ONU, que estabelece o padrão de cálculo dos impactos ambientais em linha com a prática científica aceita e cria um roteiro para atingir as metas. Para relatar como estão progredindo em direção às metas de sustentabilidade, a maioria das organizações segue os padrões da Global Reporting Initiative (GRI) - em português, Iniciativa Global de Informação. Esta é uma iniciativa independente de relatórios de sustentabilidade que é frequentemente utilizada como estrutura para a criação de relatórios de sustentabilidade corporativa e que, de acordo com a consultoria KPMG, é agora utilizada por quatro em cada cinco das 250 maiores empresas do mundo. Existe também um padrão para relatórios financeiros, conhecido como estrutura do Sustainability Accounting Standards Board (SASB), um órgão independente de definição de padrões que trabalha nos riscos financeiros relacionados à sustentabilidade e é considerado o padrão ouro sobre o que as empresas devem divulgar aos seus investidores.
Como estamos indo
A maioria dessas iniciativas de sustentabilidade olha para o futuro. É por isso que os padrões de desempenho ISO são tão importantes: eles existem agora. As normas criadas pela ISO (incluindo a mais importante norma de sustentabilidade conhecida como família ISO14000, que abrange áreas como auditoria ambiental e avaliação do ciclo de vida) contêm uma enorme quantidade de detalhes sobre como exatamente as empresas devem organizar os seus programas ambientais. As empresas recorrem então a outros organismos para certificar que cumprem as normas ISO – dando-lhes uma garantia de credibilidade que protege contra alegações de "maquiagem verde".
A ISO também está trabalhando em novas normas que preenchem algumas lacunas significativas no domínio da sustentabilidade, incluindo normas para ações corporativas em matéria de biodiversidade. Este tem sido um dos elos mais fracos na resposta global ao desafio da sustentabilidade: das 20 metas de biodiversidade acordadas em 2010 no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, nenhuma foi totalmente alcançada até a data prevista de 2020.
A ISO também está desenvolvendo um plano ambicioso para definir e padronizar as práticas de economia circular nas empresas, que afirma ser um “pilar da ação climática” e requer uma atuação mais rápida por parte de governos, organizações e indivíduos. A ISO afirma que o padrão de economia circular foi projetado para minimizar o desperdício de recursos como calor e água.
Talvez seja inevitável que grande parte do debate em torno da sustentabilidade seja sobre o futuro. No entanto, é exatamente por isso que normas como a ISO, que moldam os negócios e a sociedade aqui e agora, são tão importantes. Se quisermos que o futuro seja diferente do passado, precisamos nos concentrar no presente – porque é o que fazemos agora que determina o que virá lá na frente.
Ilustração de Elisa Macellari