A capacidade de se recuperar ou se adaptar às dificuldades ou mudanças é uma das definições de resiliência. Aborrecimentos e decepções fazem parte da vida e ter condições de superar os problemas faz com que as pessoas consigam enfrentar melhor os desafios. “Tudo se desestrutura para você se estruturar”, como diz a música Alento, do cantor Marcelo Jeneci.
Os altos e baixos existem em todas as profissões, mas talvez no esporte a importância da resiliência seja mais evidente. Para a triatleta Bruna Mahn, no esporte de endurance, que exige muito física e mentalmente dos praticantes, quem não é resiliente desiste antes mesmo de começar. “Mas quando você tem um propósito, tudo faz sentido. Hoje não consigo me imaginar sem treinar”.
Bruna sempre praticou esportes e usava a bicicleta para se locomover em Piracicaba, cidade do interior de São Paulo, e quando foi convidada para participar de uma prova de triatlo, decidiu aceitar o desafio. Adorou a competição, se sentiu muito bem ao cruzar a linha de chegada e se apaixonou pelo esporte.
Bruna Mahn – Crédito: Divulgação
“Um dos momentos mais importantes foi quando conquistei o terceiro lugar no Ironman Brasil, em 2018. Foi uma prova incrível”, afirma a triatleta. Mas chegar a esse resultado não é fácil. É preciso cumprir a rotina de treinos, às vezes com 30 horas semanais de trabalho, e ainda lidar com questões burocráticas como as despesas com viagens e competições.
Para a coordenadora do curso de psicologia da Unicid, Ana Flávia Parenti, a resiliência é aprendida com a nossa história de vida, experiências e ambiente à nossa volta: “tudo isso nos ensina sobre sermos mais ou menos resilientes à medida que passamos pelas diversas situações e acompanhamos como as pessoas com quem convivemos reagem”.
Disposição para se adaptar
A maneira como encaramos as mudanças depende da capacidade de adaptação e de aceitar o novo. “Nem todas as pessoas estão dispostas a novas atitudes, situações ou comportamentos. Tudo isso demanda comprometimento e responsabilidade pela sua própria história”, explica Ana Flávia.
O processo terapêutico pode auxiliar no desenvolvimento da resiliência, mas é importante que a pessoa esteja disposta e procure por essa mudança. De acordo com a coordenadora do curso de psicologia, muito se fala em uma alteração no comportamento das pessoas depois da pandemia, mas ela pode ser momentânea e forçada pela situação. Não há mudança sem vontade e interesse.
Mas também é importante reconhecer nossos limites e saber a hora de desistir quando algo estiver prejudicando a saúde física ou mental. “É completamente normal passar por momentos de tristeza, angústia e medo. Também é normal olharmos para nós mesmos e não ultrapassar nossos limites por outras pessoas. Em alguns momentos é importante dizer não”, diz Ana Flávia.
Quando passa por situações desafiadoras, Bruna gosta de passar um tempo sozinha, meditar, rezar ou estar com a família. “Acredito que estamos aqui no mundo por algum motivo. Cada um tem um papel e, se passamos por momentos difíceis, vamos valorizar ainda mais os momentos bons”.
Para a triatleta, o esporte é a prova de que potência não é nada sem controle. “Eu sempre brinco que competição só termina na linha de chegada. Ou seja, se você gastar toda a sua energia no início, provavelmente não chegará bem ao final”.
Bruna Mahn – Crédito: Divulgação
Em provas de longa distância como o Ironman, que são 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de bicicleta e 42 quilômetros de corrida, quem não respeitar a distância e o limite do corpo não consegue terminar a competição. Por isso é importante se esforçar, mas também conhecer bem os seus limites para garantir um bom resultado.