Quem teve a oportunidade de passar um tempo em contato com a natureza já deve ter sentido uma mudança no humor, maior capacidade de foco, redução nos níveis de estresse e até uma melhora na qualidade do sono. No Japão, o Shinrin-yoku, ou banho de floresta, que é simplesmente um passeio em um local com bastante verde, é prescrito por médicos como um remédio para quem vive em grandes cidades e está sempre em contato com a tecnologia.
Durante a pandemia, muitas pessoas decidiram se isolar em locais mais calmos e antecipar o sonho de viver mais próximas da natureza. Para o psicólogo Rosalvo Pires, circunstâncias e situações que não estavam no radar devido a um objetivo definido podem ter dificultado ou impedido mudanças anteriores, mas os acontecimentos dos últimos tempos fizeram com que muitos planos fossem revistos.
“O isolamento social nos faz encontrar soluções antes impensadas, fortalecer e nos preparar mais e melhor para as adversidades. É uma oportunidade para avaliarmos e reavaliarmos nossa existência”, acredita Pires.
O psicólogo acredita que essa situação possibilita transformar o local em que vivemos, transcender nossas crenças, mudar hábitos e deliberar ações que aumentem nossas conexões cerebrais e nos tornem donos das nossas vidas e histórias.
“O isolamento pode aumentar nossas reflexões a respeito de tudo. E quem sabe conseguiremos aprofundar as relações que já temos sem nos distrair muito de nós mesmos e daqueles que nos são caros ao buscar incessantemente aumentar o tamanho do nosso círculo de relações quantitativas, que nos ilude e faz com que nos percamos cada vez mais”, afirma Pires.
Refúgio durante a pandemia
Um estudo publicado pela revista Personality and Individual Differences e liderado pelo professor associado do Programa de Ciências Comportamentais e do Cérebro na Universidade da Geórgia, Brian W. Haas, indica que as pessoas pesquisadas no Japão e nos Estados Unidos que tinham mais contato com a natureza lidaram melhor com a pandemia.
Muitas pessoas já fazem isso instintivamente, mas o estudo mostra claramente a importância de apreciar o meio ambiente pode trazer benefícios independentemente de onde você more.
No caso do Japão, os banhos de floresta se tornaram uma prática medicinal na década de 1980, quando começaram a surgir os efeitos da tecnologia nos moradores do país. Além do estresse, doenças como depressão, ansiedade e insônia se tornaram mais frequentes naquela época, além de pressão alta, baixa imunidade e tensão muscular.
E como as cidades passaram a ter cada vez menos áreas verdes, os passeios nas florestas se tornaram o alívio que os japoneses precisavam para ter uma vida mais tranquila e saudável.
Mas como nem todo mundo consegue fazer home office ou se mudar para um local mais próximo da natureza, Pires indica algumas atitudes que podem ajudar a manter a saúde mental mesmo em grandes cidades:
- “Disciplina é liberdade/Compaixão é fortaleza/Ter bondade é ter coragem”, canta Renato Russo. Lembrando que ser disciplinado é utilizar o tempo a seu favor. Fazer o que é preciso sem desculpas ou procrastinação.
- “Espontaneidade é dar respostas novas e adequadas para situações antigas ou novas”, escreveu o criador do psicodrama, Jacob Levy Moreno. Então crie e reinvente novas maneiras para fazer aquilo que já faz ou fará daqui para a frente. Invente, construa ou ressignifique seu tempo e espaço.
- “A liberdade conhece o espaço dentro do qual é possível”, escreveu Bally. Não importa o que você é ou tem e, sim, o que você faz com quem é e com o que tem aqui e agora.
- Quebre algumas rotinas e crie outras. Prefiro não dizer quais, pois a vida é de cada um. Mas construa uma nova maneira de viver e conviver.