Era uma vez um adolescente que, ao assistir às competições de natação em Atenas, percebeu que ele também poderia se tornar um atleta de alto rendimento. Daniel Dias não conhecia o esporte paralímpico, mas ao ver Clodoaldo Silva ganhando medalhas para o Brasil, se interessou pelo esporte e resolveu praticá-lo logo em seguida.
A habilidade ficou evidente: em oito aulas ele já aprendeu a nadar os quatro estilos. Rapidamente, a natação se transformou em profissão e já no primeiro Campeonato Brasileiro de Natação, de que participou em 2005, ganhou uma medalha de bronze.
Daniel Dias – Crédito: Divulgação
“A emoção foi muito grande e senti que aquela conquista representava um poder de realizar sonhos e decidi seguir com a carreira profissional”, explica o nadador.
Foram anos de dedicação, muito treino e disciplina que fizeram com que Dias se tornasse o maior medalhista da natação paralímpica do mundo. Para ele, o esporte é uma ferramenta transformadora que faz com que as pessoas com deficiência descubram novas atividades e maneiras de transformar sonhos em realidade e, além dos benefícios físicos, também é uma das formas mais eficazes de inclusão social.
Para quem pensa em participar de competições, o nadador fala da importância do foco e dedicação. “Tudo é possível, mas é preciso se esforçar bastante, pois o caminho não é fácil. O alto rendimento exige muito preparo físico, técnico e psicológico”.
Dias conta que na água é preciso ter controle do corpo para que ele flua com rapidez, alinhando a respiração e os movimentos. Por isso, é preciso equilibrar a potência e a força de acordo com a estratégia da prova.
Inclusão das pessoas com deficiência
Questões como inclusão e acessibilidade cada vez mais têm sido discutidas, mas o nadador acredita que ainda existe muito trabalho a ser feito. “A sociedade brasileira carece de informações sobre as pessoas com deficiência e sobre o esporte paralímpico. Precisamos ter mais apoio da mídia para ajudar a disseminar isso e minimizar o preconceito que ainda existe”.
Estava tudo certo para que Dias fosse para os Jogos Paralímpicos de Tóquio no ano passado, mas a pandemia fez com que os planos tivessem que ser adiados. E o fato de não poder treinar por um tempo fez com que ele se sentisse, literalmente, um peixe fora d'água.
“Acredito que foi um período importante para refletir e exigiu muito mais foco. Talvez eu tenha aprendido por conta da minha deficiência que sempre é possível achar um caminho alternativo para um mesmo objetivo. Ser flexível e resiliente é muito importante na vida em geral e é preciso acompanhar as mudanças e adversidades e adaptar quando for necessário”, diz ele.
Depois do susto inicial, Dias conseguiu fazer os ajustes necessários e seguir com treinamentos intensivos, o que inclui treino na piscina de segunda a sexta-feira por cerca de duas horas, além de musculação três vezes por semana.
O nadador já anunciou que esta será a sua última competição e tem tudo planejado para quando se aposentar das piscinas. Ele pretende se dedicar mais ao Instituto Daniel Dias, que inclui pessoas com deficiência por meio da prática da natação paralímpica.
“Quero poder me dedicar mais à gestão, pois tenho grandes planos de crescimento para o Instituto. Vou continuar a ministrar as minhas palestras em clínicas de natação e também sigo como membro do Conselho Nacional de Atletas e da Assembleia Geral do Comitê Paralímpico Brasileiro”, afirma Dias.
Com o seu foco e dedicação, sem dúvida o nadador vai difundir ainda mais o esporte paralímpico e inspirar muitos futuros atletas.