Há décadas, a curiosidade humana e a busca por mais conhecimento sobre o que a natureza oferece e aos segredos que guarda incentivam produções de filmes e documentários que têm como pano de fundo as florestas, a vida animal e os mares. É por meio, principalmente, de documentários sobre a natureza que é possível colocar luz sobre muitos dos acontecimentos que os olhos humanos jamais teriam condições de observar, seja pelas condições climáticas, condições de sobrevivência e, até mesmo, o risco à vida que seria imposto, por exemplo, para estar cara a cara com grandes felinos ou tubarões gigantes.
O trabalho de documentaristas evoluiu fortemente nas últimas décadas. Os fatores que levaram esse segmento a um crescimento significativo foram, por exemplo, o advento dos canais de televisão voltados especificamente para este tipo de programação, principalmente a partir do final da década de 1990, e a evolução tecnológica dos equipamentos que ajudam a captar com cada vez mais qualidade as imagens em ambientes muitas vezes inóspitos, mas que podem ser habitat de diversas espécies e palco para cenários deslumbrantes da natureza.
Para conhecermos ainda mais sobre este universo, conversamos com Lawrence Wahba, brasileiro e um dos principais documentaristas de natureza do mundo. Formado em cinema, Lawrence comemora 30 anos de carreira no próximo mês de setembro. E, ao longo destas três décadas, ele coleciona histórias e uma filmografia que poucos profissionais da área podem ostentar.
Lawrence reafirma que o boom dos documentários da natureza aconteceu em meados dos anos 90. Reforça que o início das atividades de canais específicos abriu um novo horizonte com maior capacidade de captação de recursos financeiros e maior interesse da audiência. Tanto que ele se lembra do primeiro trabalho ainda em 1993 que teve como foco desvendar os segredos dos oceanos e recebeu o nome de “Segredos Submersos do Atlântico”. Depois disso, vieram dezenas de trabalhos em sequência que o fizeram chegar em 2022 com muita bagagem, prêmios internacionais – inclusive um Emmy Award, que é considerado o Oscar da televisão – e o status de um dos maiores documentaristas do mundo.
Os documentários buscam também uma consciência sobre questões muito relevantes como a preservação ambiental e os limites da ação humana para que não se coloque em ameaça a existência de espécies animais e, de forma mais abrangente, a saúde do nosso planeta.
Um dos trabalhos mais recentes de Lawrence Wahba tem exatamente este propósito de conscientização. No começo de 2020, ele foi o único cinegrafista que conseguiu as primeiras imagens das queimadas que atingiram o Pantanal. Com o início da pandemia, outras produções foram suspensas e ele teve a sensibilidade de que seria importante registrar e documentar o que estava acontecendo no lugar naquele momento. "As primeiras imagens já eram muito impactantes. A partir daquele momento no qual o mundo praticamente parou devido à pandemia, senti que era também o momento de acompanhar a evolução daquele acontecimento e mostrar mais de perto os problemas que aquele desastre traria e o trabalho de profissionais que estavam dedicados a combater aqueles incêndios", explica Lawrence.
Todo o registro se transformou no documentário “Jaguaretê Avá: Pantanal em Chamas”. O trabalho não se limitou apenas a documentar os acontecimentos e seus desdobramentos. Lawrence é embaixador do Instituto Homem Pantaneiro e auxiliou na busca por doações que foram fundamentais para a preservação local e ajudaram na criação da Brigada Alto Pantanal e de dois centros veterinários. Uma parte dessas doações foram os ganhos integrais recebidos da comercialização do documentário em uma plataforma brasileira de streaming.
Por trás de um documentário de cerca de uma hora está o trabalho de semanas ou meses. Mais que isso, está uma preocupação em levar informações de qualidade para que seja possível disseminar conhecimento sobre a diversidade do Meio Ambiente, os biomas espelhados pelo mundo e como tudo isso impacta diretamente em nossas vidas. Inclusive, a importância de preservarmos a natureza, que é também o único caminho para garantir a nossa existência.