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20 palavras por um novo mundo: Distanciamento social

Vinte palavras escritas por quatro autores (Szalay, Millard, Gallo e Dabiri) para narrar o novo mundo. David Szalay, autor de vários livros, incluindo London and the South-East, All That Man Is e Turbulence, escreveu sobre o significado de "Distanciamento Social". Nascido no Canadá, ele cresceu em Londres e agora mora em Budapeste

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Acho que muitos de nós não estávamos acostumados à expressão “distanciamento social” antes do início deste ano. Ela ao menos já existia antes? Se sim, era conhecida apenas por epidemiologistas profissionais. Agora, como expressão ela parece tão familiar que é difícil imaginar um mundo em que não soubéssemos o que significava.

Como expressão, mas também na prática.

Essa hesitação antes do aperto de mãos.

Essas filas absurdamente espaçadas.

Essa sensação de cada um de nós sendo fisicamente uma ilha.

Passar meses vendo nossos conterrâneos como vetores de doenças é uma experiência que provavelmente nos afetará por muitos anos.
Já havia uma tendência de desconfiar daquelas pessoas que não conhecíamos pessoalmente nos espaços urbanos anônimos em que a maioria de nós habita. Parece provável que a experiência de Covid-19, pelo menos em um nível subconsciente, leve esta tendência ainda mais longe.

Sim, existe um sentimento de solidariedade, mas também existe um sentimento intenso de que todas as pessoas que cruzamos na rua são uma ameaça potencial. Nós os mantemos à distância. É uma espécie de cortesia – também somos uma ameaça potencial para eles –, mas também é uma forma de dizer “Não se aproxime de mim! Eu não sei quem é você!"

Isso provavelmente representa uma mudança maior entre os povos acostumados ao toque do sul do que entre seus primos mais distantes do norte, mas mesmo no norte há protocolos em mudança.

Isso terá consequências a longo prazo? Tudo depende de quanto tempo dura o período de crise aguda. Se houver ondas sucessivas de infecção de modo que essas medidas vigorem por vários anos, é difícil imaginar que as coisas voltarão a ser exatamente como eram antes.

Embora as crianças sejam as menos afetadas pela doença real, elas serão as mais afetadas pelas novas formas de interagir socialmente porque terão menos memória, ou nenhuma memória, de como as coisas eram antes.

Vão, então, os italianos se tornar mais como os holandeses e os holandeses mais como os japoneses à medida que todos nós avançamos na escala em direção a um policiamento mais vigilante do nosso espaço pessoal, do campo de força invisível que cerca cada indivíduo? E podemos dizer que tal desenvolvimento nos tornará mais extrovertidos? Provavelmente não. A esse respeito, parece provável que nos tornemos, no mínimo, mais conscientes de nossos próprios limites pessoais e mais inibidos a violar os limites dos outros, mesmo com uma mão no ombro ou um beijo na bochecha. Vamos desenvolver instintos mais cuidadosos. Claro, encontraremos novas formas de comunicar afeto, embora talvez sempre falte alguma coisa. Aparentemente, no mundo da língua inglesa, quando você quer dar um abraço em alguém, ao invés de realmente abraçá-lo, agora você diz: “Eu gostaria de poder te abraçar”. As palavras são bem intencionadas, mas sinto que o contato físico real tem algo que elas não conseguem substituir.

Povos inteiros mudam com o tempo. Os ingleses costumavam ter uma reputação em toda a Europa por seus costumes táteis – aqui estou falando séculos atrás, na época de Shakespeare. Em algum ponto ao longo do caminho, eles mudaram. Tudo sempre muda, às vezes apenas mais rápido do que em outras ocasiões.