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20 palavras para um novo mundo: Espaço

Uma série de palavras se infiltrou em nossa linguagem cotidiana este ano para descrever os novos tempos em que estamos vivendo. Pedimos a quatro grandes escritores – David Szalay, Rosie Millard, Paolo Gallo e Emma Dabiri – que escrevessem sobre algumas delas para nós. David Szalay, autor de vários livros, incluindo London and the South-East, All That Man Is e Turbulence, escreveu sobre o significado de “Espaço”. Nascido no Canadá, ele cresceu em Londres e agora mora em Budapeste.

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E o espaço público? Suponho que o espaço público físico, da categoria do ar livre, sempre teve mais destaque em lugares como a Itália, com seu clima agradável, do que em locais mais ao norte. Estou falando sobre a sensação de que a vida é vivida sobretudo do lado de fora, sob as arcadas da piazza empurra-empurra, que os nortistas sentem com uma espécie de empolgação quando se aventuram ao sul dos Alpes.

Ou pense na “Rua Árabe” – termo obviamente enraizado no fato de que o ar livre urbano é o foco da atividade social e política.
Este estilo de vida, que já dura milênios desde o surgimento da civilização, obviamente não vai acabar.

Ele sobreviveu a pragas muito piores do que a Covid-19 no passado. (Este ponto talvez deva ser discretamente enfatizado: a Covid-19 não é a pior crise da história).

Mas as cidades em todos os lugares certamente serão remodeladas por ela.

De novo, estes são processos que, em sua maioria, já estavam acontecendo.

O coronavírus apenas lhes dá um empurrão extra.

O varejo tradicional parece mais condenado do que nunca.

Também parece provável que menos espaço de escritório será necessário do que o que existe atualmente, uma vez que, tendo percebido que podem fazer a maioria de seus trabalhos em casa, muitos funcionários de escritório vão querer continuar fazendo isso mesmo quando a crise passar. A internet já havia tornado o escritório do século XX um anacronismo e esta nova forma de trabalhar pode ser uma das mais dramáticas mudanças de longo prazo trazidas pela situação atual.

Até porque terá diversos tipos de efeitos indiretos. Isso vai transformar todo o padrão de vida das pessoas. Vai desfocar a linha – sempre artificial, mas sustentada pela existência de um lugar chamado “o escritório” – entre “vida” e “trabalho”. Isso pode ter muitas consequências benéficas. Mas os bairros comerciais dos centros das cidades com certeza vão sofrer. Os restaurantes onde os trabalhadores do escritório costumavam almoçar terão dificuldade em substituí-los. As estações de trem vão parecer vazias e muitas das lojas e cafés que encontramos ali irão enfraquecer. À medida que a atividade econômica se desloca para a Internet (e para depósitos inimaginavelmente enormes no meio do nada), haverá muito espaço vazio nos centros das cidades. Vendo para que lado o vento sopra, o governo britânico já anunciou novas regras que tornam muito mais fácil converter lojas e escritórios em casas. As ruas principais, antes cheias de negócios e agora sombriamente fechadas, o golpe fatal desferido pelo vírus, tentarão se reinventar como espaços residenciais e podem muito bem ter sucesso dada a atual escassez de moradias, especialmente para os jovens.

Mas, é claro, “o escritório” em sua grande encarnação do século XX também era um lugar de interação social. Era uma espécie de praça pública. (Na América, este aspecto é sinedoquizado com "o cafézinho").

Este espaço também será perdido, talvez para ser substituído por outros, dos quais muitos sem dúvida estarão online.