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20 palavras para o novo mundo: Mãos

Uma série de palavras se infiltrou em nossa linguagem cotidiana este ano para descrever os novos tempos em que estamos vivendo. Pedimos a quatro grandes escritores – David Szalay, Rosie Millard, Paolo Gallo e Emma Dabiri – que escrevessem sobre algumas delas para nós. O texto de hoje é de Rosie Millard, apresentadora experiente, jornalista e autora. Ela foi correspondente de arte da BBC para adecade, âncora do The Sunday Times, colunista do The Independent e escreveu quatro livros. Ela foi presidente da Hull UK City of Culture em 2017, pela qual foi premiada com um OBE, e agora é presidente do conselho de administração da instituição de caridade BBC Children in Need. Ela escreveu sobre o significado de “Mãos".

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Lave suas mãos, lave suas mãos. Meu filho mais novo começou a lavar e secar suas mãos com tanta frequência que elas chegaram ao ponto de inchar e sangrar. Desde então eu comecei a insistir para que ele começasse a andar com um hidratante de mãos em sua bolsa.

Isso mudou minha rotina doméstica completamente. Há hidratante de mãos em todos os balcões. Troco as toalhas o tempo todo. Novas barras de sabão, esfoliantes de mão, detergente de todas as cores e fragrâncias. Elimine o vírus dos seus dedos! Aparentemente eu nunca soube lavar minhas mãos. Agora eu sou uma expert.

Hoje cada superfície da minha casa está limpa e livre de pó depois das notícias de que o vírus aparentemente pode viver por anos em uma superfície lisa. Nossas mãos são meios de transportá-lo e o toque é perigoso. Logo no começo do lockdown nós resolvemos tornar a minha casa um refúgio livre de vírus. Eu saí e fiz um estoque de produtos de limpeza para cada tipo de superfície: vidro, madeira, aço inox, esmaltado. Eu comprei luvas de borracha. E duas vezes por semana – agora por mais de 12 semanas já – eu limpei, esfreguei e poli minha casa do chão ao teto.

Agora eu tenho uma relação com a limpeza que eu nunca tive antes. Eu fiquei até envergonhada por ter contratado alguém para limpar os quartos durante minha vida adulta. Por que eu me achava superior a esta tarefa? Agora que eu sei que um vírus fatal pode estar escondido em minha campainha, eu limpo a porta da frente cheia de alegria. E o resto da casa também. Minha doméstica foi demitida, mas eu ainda pago seu salário – afinal, o que acontece se todos demitirem seus faxineiros sem pagar?

Ela vai voltar, eu espero, mas enquanto isso eu estou ocupada com os trabalhos domésticos. Minha casa nunca brilhou tanto como hoje e minhas mãos nunca estiveram tão ocupadas. Não apenas com a limpeza, mas também com outras coisas: geléias, pães, bolos. Passando roupa. Remendando os edredons. Acho que foi um jeito de lidar com o fato de que o mundo lá fora se fechou completamente. Se eu não posso fazer nada do lado de fora da minha casa, ao menos vou gastar minhas energias tomando conta do que está da porta para dentro e deixar tudo lindo. Flores frescas em vasos brilhantes decoram os quartos, as fotografias penduradas nas paredes não têm pó. A geladeira nunca foi tão limpa e organizada. Os temperos estão cuidadosamente dispostos em uma nova ordem. Quanto ao banheiro, eu consegui viver por cinco décadas sem arrumar meus batons por cor, mas agora isso mudou. A vida organicamente desordenada se transformou em ordem – uma bela ordem – e fronhas passadas.

Tudo começou com um simples cuidado com as mãos. Isso se estendeu para cuidar da casa que, com certeza, virou muito mais do que um lugar de recarga de energias e descanso. Como para muitos, minha casa virou meu escritório, meu refúgio, minha academia e meu restaurante. Mais que nunca, é um espelho daqueles que moram aqui. E não há dúvidas de que eu me tornei orgulhosa do meu ninho, e certamente pro resto da minha vida. Há também outro motivo: agora que todos podem ver sua casa pelas ligações do Zoom, você não quer que ela seja impecável?

Sim, eu poderia ter lido a obra completa do Charles Dickens ou até ter embarcado na aventura de escrever um romance eu mesma, mas enquanto tudo parece estar em estado de hibernação, estou mantendo minhas mãos limpas ocupadas pela reordenação da minha casa. E pelas prateleiras de produtos de limpeza vazias no supermercado, eu sei que não estou sozinha.